15/06/2009

Artigo: o Inter e as relações internacionais

Por Marco Antônio Zamboni Zalamena

A atuação do Clube do Povo junto ao sistema internacional, explanada na condição de importante ator não-estatal das relações internacionais, enriquece ao longo dos 100 anos e garante um futuro promissor ao maior clube do sul do país

Por sistema internacional entende-se a interação de atores estatais e não-estatais, o qual representa a forma mais realista da concepção de ações e comportamentos do mundo moderno. Constitui um aglomerado de regras, normas e procedimentos que configuram o comportamento e controlam os seus efeitos na multiplicidade de atividades das relações internacionais. A maior parte das corporações transnacionais e organizações não-governamentais surgidas nos últimos 30 anos intensificaram o questionamento relativo à capacidade político-institucional do Estado em direcionar ações políticas à sociedade e à economia, abrindo espaço para a atuação dos atores não-estatais. No futebol, questionamentos da mesma ordem também suscitam e, na lista de atores não-estatais das relações internacionais, os relativos a este esporte não devem ser negligenciados. Hoje, as diferenças diplomáticas, sociais, jurídicas, geopolíticas e inter-fronteiriças*, capitaneadas pelos global players - FIFA, mídia, multinacionais, organizações internacionais, ONGs, clubes profissionais - fomentam as relações internacionais inerentes ao esporte mais popular do planeta e elevam a importância dos atores não-estatais em contrapartida ao status de ator único e soberano conferido ao Estado.

Dentro deste contexto, os clubes de futebol manifestam-se como importantes atores não-estatais das relações internacionais e, no Brasil, o Sport Club Internacional tem um papel fundamental, além de um futuro promissor. Hoje, o Inter está, em parte, glocalizado. Explico. Com o termo glocal - combinação de globalização com localização – presume-se que um clube de futebol, apesar de enraizado localmente, atinge um leque de atividades globais e, por isso, pode servir como atributo à condição atual do clube gaúcho. Porém, este atributo refere-se mais ao desempenho futebolístico, traduzido em conquistas dentro de campo, do que às políticas administrativas que almejam a inserção do clube no cenário internacional nos moldes, por exemplo, de uma multinacional. Ao passo que a expansão do escopo de atividades com caráter internacional faz-se possível, devido à grandeza da organização futebolística que representa, o Inter ainda descuida, em certos aspectos, da importância de incluir ações administrativas além do cenário nacional.

Contudo, esta lacuna talvez seja justificada pelos métodos tradicionais de governança ainda utilizados em associações futebolísticas do Brasil, Inglaterra ou qualquer outro país. Esta divergência pode, em médio prazo, ser solucionada através da negociação entre organizações públicas e privadas nos vários níveis de governança do clube acompanhada por adequada profissionalização da sua hierarquia organizacional conforme as exigências mercadológicas inerentes à indústria internacional do futebol. Nacionalmente, o Inter figura como referência no quesito “gestão administrativa”. Portanto, o que se indica aqui é o fato de o clube, baseado no supracitado, poder melhorar e adequar a sua administração às condições econômicas internacionais, enriquecendo ainda mais a sua importância como ator não-estatal nas relações internacionais.

O clube já investe em ações as quais respeitam alguns princípios que regem as relações internacionais, não se limitando, assim, apenas ao entretenimento e à prática do futebol. Nesse viés, sugere-se que o clube esteja em consonância, por exemplo, com a preocupação relativa à prevalência dos direitos humanos, uma vez que as suas ações sociais contabilizaram mais de R$ 76 milhões ao final do ano de 2007. Entre as áreas investidas estão: meio ambiente, saúde, cultura e geração de emprego/renda; ou seja, todas dotadas de caráter humanitário-desenvolvimentista. Tal estatística é muito importante institucionalmente para o clube, pois em um contexto onde políticas desenvolvimentistas ortodoxas, preconizadas por democracias liberais do ocidente, parecem não funcionar, o Inter emerge como importante ator não-estatal e solidifica as suas iniciativas e responsabilidades condizentes aos direitos humanos. 

O Sport Club Internacional na Copa do Mundo: da África do Sul 2010 ao Brasil 2014

A despeito da Copa do Mundo de 2014, no Brasil, garantir em média três ou quatro jogos do maior torneio de futebol do planeta ao Estádio Beira-Rio, a atuação do clube junto ao sistema internacional deve suscitar responsabilidades já em 2010, na África do Sul. Assim se imagina, pois seria no mínimo impróprio para o clube se este intensificar suas atividades de cunho internacional somente a partir de um curto prazo antes do evento tomar conta do território brasileiro, no intuito de apenas cumprir com os requisitos administrativos básicos demandados a um clube anfitrião de Copa do Mundo. A Copa traz consigo aspectos benéficos ao clube que vão muito além dos jogos per se. Além de exigir a modernização da infra-estrutura dos estádios, aumentar a receita do clube, atrair capital e investimento externos, ela representa o maior evento sócio-econômico e cultural realizado pelo homem, sem precedentes na história.

Nenhum outro evento da humanidade é capaz de conectar – mesmo que virtualmente – milhões de cidadãos de diferentes culturas com tanta naturalidade. Assim sendo, as oportunidades existentes ao Inter já durante a Copa do Mundo de 2010, na África do Sul, resumem-se no fomento de alianças estratégicas entre o próprio clube e atores não-estatais das relações internacionais os quais também se encontram engajados em políticas da ordem humanitário-desenvolvimentista e que estarão presentes na edição africana do evento. Exemplos não faltam. São mais de 255 projetos encabeçados por atores não-estatais, registrados hoje em sportanddev.org, uma plataforma internacional para o desenvolvimento através do esporte. O objetivo do clube seria, então, expandir as suas iniciativas desenvolvimentistas domésticas para o cenário internacional e, assim, consolidar ainda mais suas ações administrativas além do cenário brasileiro. Tal atuação “antecipada” do clube em relação à Copa do Mundo do Brasil resultaria no devido reconhecimento tanto da sua marca quanto na importância das suas atividades internacionais perante todos os atores do sistema internacional ligados ao futebol que se farão presentes no país em 2014.    


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