18/08/2019

Nove anos da reconquista continental

Nem todos sabem, mas nossa nação foi batizada em referência ao Pau-Brasil, árvore da qual se podia extrair o valorizado tom rubro, capaz de tingir tecidos amplamente admirados na Europa. "Vermelho como brasa", o país do futebol pode se orgulhar de ter, em seu território, desbravador Clube que honra o nome do Brasil. Colorado Sport Club Internacional, conquistador continental, que neste domingo (18/08) comemora nove anos da segunda vez em que tomou a América para si.

A caminhada rumo ao bi não foi nada simples. Pelo contrário, foram muitos os dramas que o Clube fez questão de oferecer como se fora um cardiologista para a sua gente. Logo na primeira rodada, disputada em casa, um triunfo conquistado somente depois dos 40 apresentou a tensa realidade que nos aguardava: como em duelos por conquista, antes da euforia e dos prazeres seria necessário superar as batalhas.

Batalhas que, a exemplo do capítulo segundo, não foram travadas apenas por chuteiras e bolas, mas também por lábia e experiência. Quem poderia imaginar que, na altitude de Quito, diante de milhares de equatorianos, a voz que falaria mais alto seria a de um Pato?

Igualmente impossível seria triunfar sem um verdadeiro exército. Bravo povo vermelho, que cedo já apavorava rivais charruas, invadindo suas terras e promovendo colorada algazarra. Para estes guerreiros, não poderiam deixar de brilhar os nossos heróis. Craques, que souberam empunhar o brasão do Inter, estando impecáveis nos domínios gaúchos.

Líderes avançamos. Sofrendo até o final dos segundos, é verdade, como no gol que nos confirmou o caminho das eliminatórias, anotado quando o soprar do berrante estava para ser praticado, encerrando a peleja. Contudo, mesmo que acionado, o som em nada seria ouvido - jamais poderia, diante da multidão que, inquieta, das arquibancadas do Coliseu colorado incessantemente bradava.

Houve instante em que nos acusaram de hesitar. Não negamos, contra inimigo aplicado, frequentando território hostil, sofremos um duro baque. Mas foi então que descobrimos o porquê de os clichês, tão repetitivos, conseguirem se eternizar. Afinal de contas, se um aspecto de nosso cotidiano atinge o status de rótulo nacional, é porque ele merece um olhar minimamente mais atento daqueles que neste país vivem. Assim, comprovamos que as quedas, de fato, fortalecem os que conseguem se reerguer.

E como se reerguer sem usar a força dos coreanos, populares, sociais e até perpétuos lutadores colorados? Milhares tomaram o Gigante para, uma vez mais, avançar. Agora, restavam somente mais sete adversários.

Quanto mais seleto o grupo, mais delicado o conflito. Enfrentando o atual dono do continente, usamos nossa principal arma para triunfar, garantindo, assim, seguro estofo para o instante da invasão ao território hostil.

Por lá também sofremos, é fato, mas como experientes. Sabendo competir, e conscientes dos momentos em que seria necessário jogar. Iludidos os adversários que, no anseio de impor aos gaúchos o golpe fatal, usaram arma assustadora, mas que já conhecíamos. Como a fumaça poderia apavorar os criadores das Ruas de Fogo, que há menos de dois anos incendiaram um estádio inteiro? Da neblina cresceu a mística, e com ela talhamos o castelhano. Semifinalistas!

Ah, os paulistas! Quantas lembranças impagáveis. Contra eles fincamos, pela primeira vez, nossa bandeira em escala continental. Agora nos reencontrávamos para oficializar quem honraria as cores brasileiras na última rodada de duelo sudaca. Os desavisados declaravam que a luta seria tramada pelo verde e amarelo. Os colorados sabiam que era pelo vermelho, da brasa. Alvirrubro, misturado ao branco, e que brilhou na Padre Cacique.

No bairro Morumbi nos postamos como legítimos riograndenses. Comendo grama, brigando por cada centímetro do campo de batalha. Uma tropa ensandecida, como seu camisa 10 após rasgar as redes rivais. De tão exemplares que fomos, não apenas avançamos, como também tomamos a América do Sul. Orgulhosos donos continentais, duelaríamos por toda a América, de Norte à mais meridional das terras, enfrentando um conhecido mexicano.

Primeiro avançamos sobre trincheiras sintéticas. Estranho solado que muito atrapalhou, mas nem assim nos parou. Arrasadores na artilharia aérea, usando de arsenal poderoso, atacando com duas torres apavorantes, garantimos a vantagem. Importantíssima. Para tomar de nossas mãos praticamente toda a porção ocidental do planeta, precisariam nos atacar.

Atacados fomos, mas muito por não termos nos escondido. No lugar de acocorados em trincheiras, estivemos intensos, invadindo as rivais fileiras. Ponto final de tão emocionante, estressante e, sobretudo, abençoada caminhada, o último dos embates foi encerrado com grande vitória. Campeões, patrões continentais, oficializamos a vitória com o tremular de bandeiras de um ídolo general em frente aos soldados colorados. Mais uma vez, a América era nossa.

Nove anos da inesquecível cruzada. Uma quase década da segunda vez em que um raio caiu no mesmo lugar. Ansiosos seguimos, enfileirados, apenas aguardando pelo estímulo dos heróis de hoje para, juntos, voltarmos a fincar nossa bandeira por todas as terras encontradas por Colombo. Afinal de contas, o vermelho não é apenas a cor que mais combina com o Brasil. Trata-se do tom que melhor veste toda a América!

 


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