17/07/2019

Há 11 anos, o Beira-Rio rugiu, e o Inter virou na Copa do Brasil


Nesta quarta-feira (17/07), a partir das 21h30, o Inter decide vaga às semifinais da Copa do Brasil em confronto contra o Palmeiras, no Beira-Rio. A partida será a segunda da fase de quartas de final. Em São Paulo, os mandantes venceram por 1 a 0, assegurando a vantagem do empate para o duelo do Gigante. Para sair de campo classificado, o Clube do Povo conta com o inigualável apoio da Maior e Melhor Torcida do Rio Grande, confiando no fator local para dar continuidade à parceria que vem rendendo grandes frutos na temporada. Invicto jogando em casa na Libertadores, o Colorado ostenta invejável aproveitamento de 100% na Copa do Brasil e Brasileirão quando atuando em seus domínios.

Em 2019, como de costume, Gigante da Beira-Rio vem sendo território hostil aos adversários colorados

Não é de hoje que a sintonia entre time e torcida faz a diferença dentro de campo. Historicamente respeitado como mandante, o Sport Club Internacional já usou em diversas ocasiões a força das arquibancadas do Beira-Rio para superar situações adversas nas quatro linhas. Também pudera, a casa do povo colorado não ficou conhecida como Gigante à toa.

À altura de sua imponência, está também a história de um estádio descrente na existência do impossível. Erguido sobre as águas de um rio por uma torcida apaixonada, o número 891 da Padre Cacique se distingue das demais canchas espalhadas pelo planeta. Sua tradição, somada às vozes de dezenas de milhares de alvirrubros, resultam em sinergia capaz de intimidar qualquer adversário. Foi assim que, em 2008, eliminamos o Paraná e avançamos às quartas no principal torneio eliminatório do Brasil.


“Da maneira como eles vieram hoje… realmente deixa qualquer um louco”

Fernando Lúcio da Costa…, saudades eternas, Capitão! Encerrado o confronto entre Inter e Paraná, partida de volta das oitavas de final da Copa do Brasil de 2008, o camisa 9 colorado disparou aos microfones de imprensa a frase usada acima como entretítulo. Eufórico, Fernandão comemorava uma das maiores viradas do Internacional neste século, conquistada na bola, e também na raça. Afinal de contas, como revelou o ídolo alvirrubro após o jogo, a festa da torcida vermelha serviu de motivação perfeita para mais um belíssimo capítulo na história de uma década multicampeã.

O Colorado gaúcho chegou às oitavas da Copa do Brasil com uma campanha irretocável. Na fase inicial do torneio, superamos o Nacional, da Paraíba, por 4 a 0, fora de casa. Na sequência, diante da Chapecoense, Alex e Adriano construíram o 2 a 0 que garantiu a classificação para o duelo contra o adversário paranaense. O primeiro confronto, disputado em Curitiba, no estádio Durival de Brito, teve como vencedor o Paraná. Ângelo e Fábio Luis marcaram para os mandantes os únicos gols do jogo.

Com o revés, teve início semana de intensa concentração, que passou, também, pela classificação alvirrubra à decisão do Gauchão, após triunfo sobre o Caxias. Dias antes do confronto de volta contra o Paraná, ingressos de vários setores já estavam esgotados, mobilização refletida em um Gigante lotado por mais de 40 mil pessoas na noite de 23 de abril, data do jogo, que cantaram em uníssono apoiando o Inter rumo à vitória.


Desfalcado por Alex e Guiñazú, o Inter sabia que, para avançar, precisaria de estímulos que transcendessem as quatro linhas. Enquanto a torcida fazia sua parte, o Clube tentava atrair bons ventos para a beira do rio vestindo o mesmo branco que conquistara o mundo em 2006. No momento da subida ao gramado, o entrevistado Magrão deixou claro que o uniforme era reflexo de como o elenco encarava a partida, vista como uma decisão. Os onze guerreiros escalados por Abel Braga foram: Clemer, Índio, Orozco e Marcão; Bustos, Jonas, Magrão, Andrezinho e Ji-Paraná; Nilmar e Fernandão.

Imagens: Rede Globo

Toda euforia que antecedeu o primeiro apito, entretanto, foi ameaçada logo aos 15 segundos, quando Índio e Jonas esbarraram em disputa de bola pelo alto. O jovem levou a pior, caindo de mal jeito, batendo a nuca no chão, e não conseguiu permanecer em campo, dando lugar a Sidnei. O quadro ficou ainda mais dramático aos 3 minutos, instante em que Ângelo cruzou, Giuliano, futuro atleta colorado, escorou, e Fábio Luis completou para o gol, inaugurando o marcador. 

A tragédia parecia anunciada. A classificação, praticamente impossível. Os jogadores da equipe paranaense comemoravam abraçados o tento que soava ser decisivo. O destino, no entanto, aparentemente traçado, esqueceu de avisar o povo colorado de sua inevitável chegada. Tão logo Clemer foi vencido e a rede balançou, a multidão que abarrotava as arquibancadas, sociais e cadeiras do Gigante se ergueu para empurrar o Internacional com o tradicional canto “Vamo, Vamo Inter!”.

Embalado por esta trilha sonora, Andrezinho, com o peito, acionou Bustos, aberto na direita. O lateral partiu para o fundo, cortou para a esquerda, e suspendeu na área, devolvendo na medida para o camisa 10 colorado, que, antes do relógio acusar 5 minutos, também de peito dominou, e, de bate pronto, emendou bonito, rasteiro, para empatar. A torcida, que já estava em rotação elevada, entrou em polvorosa. O ritmo subiu ainda mais aos 20, quando Ângelo foi expulso após entrada violenta em Andrezinho. Pouco depois, aos 31, graças a Índio, o estádio quase explodiu.

Marcão lançou na entrada da área para Fernandão, que matou no peito e deixou atrás com Orozco. O zagueiro, por sua vez, abriu em Bustos, que com a direita levantou no pé de Índio. O xerifão colorado chegou batendo forte, no canto do goleiro, para virar. 2 a 1.

Por conta do gol sofrido como mandante, o Inter precisava marcar outras duas vezes para se classificar. Empurrada pelo Gigante e sentindo o rival acuado, a Academia do Povo partiu para o ataque. A tensão era tamanha que, aos 34, Sidnei e Joélson foram expulsos, passado espinhoso desentendimento.

O embate de 9 contra 10 abriu ainda mais espaços no gramado, que foram devidamente aproveitados pelo Inter. Primeiro, transcorridos 38 minutos, Nilmar sofreu pênalti absurdamente ignorado pela arbitragem. Um minuto depois, Fernandão deixou Orozco na cara do gol. O zagueiro soltou a bomba, mas Fabiano Heves salvou. Passados alguns segundos, a jogada se repetiu, com o capitão alvirrubro sendo servido com cruzamento de longe e dando assistência para um companheiro livre. O agraciado da vez foi Andrezinho, que, vivendo noite mágica, colocou com precisão, e permitiu ao Colorado descer para os vestiários a um tento da vaga às quartas.

Reiniciado o confronto, o Inter seguiu apresentando a mesma postura ofensiva dos 45 minutos iniciais. Apostando na força aérea de Fernandão, contando com a noite inspirada de Andrezinho, e impulsionado pelas vozes de seu povo, o Colorado estava determinado a balançar as redes pela quarta vez, assim anotando o tento salvador. O passar do tempo, ressalte-se, até deu espaço para os primeiros sinais de nervosismo, insuficientes para abalar a moral de um grupo liderado por nosso Eterno Capitão. Aos 18, o camisa 9 alvirrubro recebeu lateral de Bustos e, de cabeça, alçou na confusão. A zaga afastou mal, nos pés de Andrezinho, que teve liberdade para pensar.

Vivendo uma de suas jornadas mais iluminadas com a camisa colorada, Andrezinho honrou a 10 alvirrubra com passe milimétrico. Antes mesmo de dominar, levantou no peito de Magrão, que ajeitou com estilo inferior somente à finalização que logo armou de primeira, sem deixar cair, de voleio. Gol do Inter. Tremores na beira do Guaíba, que viu suas próprias águas se curvarem ao sobrenatural poder emanado da união de um povo com seu clube.

Beira-Rio tremeu com a festa da torcida, que empurrou o Inter na busca da vaga. Imagens: Rede Globo

Com a classificação encaminhada, o Inter se permitiu correr menos riscos, diminuindo o ritmo alucinante que imprimira ao longo de mais de 60 minutos de confronto. Coube então à torcida vaiar cada ataque paranaense, tornando insuportável aos oponentes o som ambiente enquanto trocavam passes.

Desconfortáveis, os visitantes pouco criaram, oferecendo, em contrapartida, espaço para os contra-ataques colorados, perigo supostamente impensável para quem enfrenta o imperdoável Nilmar. Em uma de suas escapadas, o camisa 7 recebeu balão da zaga, avançou para cima da defesa, entortou a marcação, e só foi parado com falta. Dentro da área. Assinalada pelo árbitro.

O cronômetro indicava exatos e pontuais 48 minutos quando Fernandão deu início à caminhada na direção da marca do cal. Tranquilo, exibindo sangue frio contrastante ao delírio da torcida, apenas deslocou o arqueiro para confirmar a vaga colorada entre as oito melhores equipes do país. Com o tento, o Inter tinha cinco. O Paraná, um. O Beira-Rio ainda celebrava quando a partida foi encerrada, abrindo espaço para as emocionadas entrevistas pós-jogo.

Imagens: Rede Globo

Confira os melhores momentos da partida:

Estaremos juntos nesta quarta-feira, Colorado. Vamos lutar até o último instante, Colorada. Time e torcida, lado a lado. Um Clube, e seu Povo. Foi como chegamos até aqui. Mais do que isso, é desta forma que construímos, e seguimos construindo, uma das mais belas histórias do futebol brasileiro. São mais de 110 anos de comunhão, ou melhor, de união, que neste dia 17 voltarão a ser colocados à prova, em busca de mais uma noite da qual jamais esqueceremos. Vamo, Inter!


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