12/02/2014

Nilson, o centroavante que decidiu o Gre-Nal do Século


O ex-camisa 9 escreveu seu nome na história do Inter

Faz exatos 25 anos, mas parece que foi ontem, tamanha a clareza com que Nilson lembra do jogo e seus pormenores. Era uma tarde quente e ensolarada, tal qual as que têm castigado o solo gaúcho nos últimos dias. O Gigante pulsava, todos sedentos por voltar a disputar uma Libertadores da América. Ou, simplesmente, eliminar o eterno rival na semifinal do Brasileirão. Foi assim, neste cenário, que o camisa 9 colorado nas temporadas 1988/89 escreveu seu nome para sempre na história do Internacional ao decidir o lendário Gre-Nal do Século.

Truque da lesão

Como todo jogo épico, a partida foi recheada de dificuldades. Para Nilson, elas começaram no dia que antecedeu o clássico: “No treino de véspera do jogo, sofri uma lesão no tornozelo direito e inchou muito. Tratamos durante toda a noite, mas, momentos antes da partida, ainda doía bastante. Fizemos uma botinha de esparadrapo no local para deixar o pé mais firme e proteger a lesão. Enquanto isso, o médico fez um curativo no joelho esquerdo e disse à imprensa que esse era local machucado. Deu certo. Os jogadores do Grêmio passaram o jogo todo batendo na perna errada”, sorri o ex-centroavante.


Artilheiro era marcado de perto pelos defensores adversários

Mas o primeiro tempo foi de tensão. O adversário saiu na frente aos 16 minutos, com Marcos Vinícius. O torcedor poderia achar que a situação já estava ruim, no entanto piorou ainda mais quando o árbitro Arnaldo César Coelho expulsou o lateral direito Casemiro, aos 37 minutos. Desenhava-se uma segunda parte não recomendável para cardíacos.

A estrela de Abel Braga

Na época, o dono da casamata era, por coincidência, Abel Braga. Mesmo em início de carreira, a personalidade já era a mesma: extremamente forte e com alto poder de decisão. Nilson pôde ver de perto: “Quando chegamos no vestiário, o Abel, com aquele seu jeitão, mandou todo mundo sentar e ficar quieto. Disse para nós voltarmos lá e resolvermos a ‘porcaria’ que tínhamos feito”, lembra.

Outra característica que sempre marcou o treinador é a ousadia. Sem medo de ser feliz, Abelão mandou o time “pra dentro deles” e lançou a campo o uruguaio Diego Aguirre na vaga de Leomir: “Quando ele falou que ia colocar um centroavante no lugar de um volante, os jogadores se olharam e eu pensei que ele tinha enlouquecido. Afinal, a gente estava perdendo e, com um jogador a menos, poderíamos sofrer outros gols. Mas isso confundiu o Grêmio. E o que aconteceu foi que entramos ‘mordendo’, marcando em cima, e, quando eles se deram conta, estavam encurralados no seu próprio campo”, reconhece o ex-camisa 9.

Nilson diz que, por motivos diversos, acabou se distanciando do atual técnico do Inter e não o vê há muitos anos. Porém, a saudade é grande pelo “professor”, com quem aprendeu muito enquanto esteve sob seu comando: “Abel foi um dos melhores treinadores que eu tive. Um cara sensacional, que ninguém tem nada pra falar. Tem a cara do Inter. Tenho um carinho muito grande por ele”, comenta.

Pupilo do Rei

Motivado pelo treinador, logo aos 16 minutos da etapa complementar o Colorado empatava. O ponteiro Edu Lima sofreu falta pela esquerda do ataque. Ele mesmo cobrou e Nilson saltou muito mais alto que a defesa gremista, cabeceando com estilo, sem chances para o goleiro Mazaropi. Aliás, esse fundamento foi aprendido justamente com outra lenda colorada: Dadá Maravilha.


Nilson sobe mais que a zaga e empata o Gre-Nal

Logo após pendurar as chuteiras, Dario tentou a sorte como treinador. Quando comandava a Ponte Preta, viu em Nilson, ainda um jovem buscando o seu espaço, potencial de centroavante e encostou no garoto: “Antes eu cabeceava de olhos fechados, não tive categorias de base. Comecei a jogar profissionalmente com 20 anos, o que sabia era de jogar com amigos na fazenda. Quando o Dadá foi meu treinador, ele me ensinou a técnica do cabeceio, de olho aberto, com o queixo no ombro. Sempre exercitava isso com ele depois dos treinamentos”, revela.

Sassá Mutema e a virada

A comemoração deste gol também teve uma curiosidade, foi uma menção a um personagem de uma novela de sucesso da época: “Tinha combinado com os companheiros que, se fizesse gol, comemoraria como o Sassá Mutema. Por isso sai correndo daquele jeito esquisito depois do primeiro gol”, diverte-se.


Edu Lima (E) e Nilson (D) comemoram o gol de empate

Em uma grande demonstração de bravura, a equipe do Inter seguia pressionando o adversário, mesmo com a desvantagem numérica. Aos 26 minutos, novamente brilhava a estrela de Nilson. Maurício fez bela jogada pelo lado direito, passou por dois marcadores e chutou cruzado rasteiro. No local certo, na hora certa, era onde estava o camisa 9, empurrando a bola para as redes: “No segundo, eu não vi nada. Só sai correndo de alegria e vi meus companheiros me abraçarem. Depois, pela TV, vi que até o Abel comemorou junto conosco”, lembra Nilson.

O centroavante encerrou o Campeonato Brasileiro daquele ano como artilheiro do torneio, com 15 gols marcados, e com seu nome eternizado na história colorada e do clássico Gre-Nal.


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